LOCAL DO ÓCIO criação: Osmar Batista Leal

" Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço"
( William Blake)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Texto 4 ( Pálidas' drinks - parte 4)



      “For if we don’t find the nest whiskey bar
       I tell you we must die”

       ( The doors)



      De um canto ao outro, atravessei o interior do Pálidas’ drinks. A atendente, nem me viu passar perto do balcão. Estava concentrada na novela. Fui sem nenhuma pressa.   
      Minha aproximação não fez nenhuma diferença. A moça da mesa do canto continuava olhando para baixo. Seus cabelos estavam soltos nos ombros. Apesar da sua falta de movimento e entusiasmo, percebi que ela notou a minha chegada.
      -Pague uma dosinha pra mim, cavalheiro!
      Eu já ouvira tantas vezes essa palavra. Só que não recordava exatamente em quais filmes.  
       -Gosta de cinema? –perguntei, enquanto sentava-me. A moça apoiava seus braços sobre a mesa.   
       -Vai pagar uma dosinha pra mim cavalheiro? -disse novamente, a moça, sem levantar os olhos e sem sorrir. Tive a impressão de que o sorriso que me chamara até aquele canto da casa fora apenas produto da minha imaginação.
       -Posso sentar-me ao seu lado? -na verdade, eu já estava sentado na cadeira ao lado.
       E mais uma vez, a moça de cabeça abaixada pediu:  
       -Posso pegar uma bebidinha, cavalheiro?
       A mulher não tinha me respondido se gostava de cinema ou não, mas insistia em me chamar de cavalheiro. Isto me fez continuar o assunto:
      -Que tipo de filme você gosta ?
      -Detesto filmes de terror... Gosto  de filmes românticos.
      -Como você pode decapitar o terror do corpo de um filme romântico?
      Acho que o que falei foi totalmente incompreensível. Ela parou até mesmo de pedir a sua dosinha.  
      -Se você quiser eu chamo outra menina para conversar com você, cavalheiro!
      Mas havia uma melancolia em sua aura que me acomodava naquela mesa. Eu queria girar um pouco em torno dela, assim como uma mariposa perto da lâmpada acesa.
      -Pode pegar uma dosinha! Eu espero aqui.
      No máximo, a moça gastou um minuto , para ir ao balcão e voltar a sua cadeira. Trouxe uma pequena taça. Um copo tão pequeno que Libertina teria consumido todo o seu conteúdo antes de retornar à mesa.
      -Obrigado, cavalheiro? –disse, a moça, após beber o primeiro pequeno gole.  
      Eu havia me acomodado ali, porém não sabia o que falar...
      -Já assistiu o filme  “O pai da noiva”?
      -Não quer beber alguma coisa também? –ela perguntou, com o olhar fixo no pequeno copo.
        -Não, não...
        -Se quiser. Eu vou buscar uma cerveja para você.
        -Não, não. Obrigado!
        -É muito, estranho!
        - O que é estranho?
        -Você ficar aí me olhando, sem beber nada!
        Realmente, Não havia nenhuma coerência em nossa conversa. Talvez fosse melhor eu me afastar. E voltar a pensar em Libertina!
        -Por que você ficou tão quieto, cavalheiro? Em que está pensando?
        -Não se preocupe comigo. Só vou esperar a chuva passar e já vou embora .
        -Você é feliz!
        -Eu? Aonde você está vendo a minha felicidade?
        - Porque você pode ir embora  quando a chuva passar!
        -E você não pode sair daqui ?
        -Eu não!
        -Por quê?
        -Porque eu não posso!
        -Por que você não pode?
        Aquela moça não consumia a bebida ansiosamente  como Libertina. O copo ainda estava quase cheio. Mas, por um momento,  percebi que a conversa estava fluindo.
      -Se está mesmo interessada em sair daqui, eu posso ajudá-la.
      -Não. Você não pode me ajudar, cavalheiro. Ninguém pode me tirar daqui.  
      -Eu só tenho esse guarda-chuva, mas... (Lembrei que já havia percebido lá na outra mesa que perdera o guarda-chuva) Talvez possamos chamar um taxi. 
     Ela  Levantou-se da cadeira, sem levantar a cabeça e disse nervosamente:
      -Você é muito estranho! Eu já disse que não posso sair daqui ...      
      Pensei em sair dali, voltar para a outra mesa, ou ir embora, mas a chuva não havia cessado e então resolvi insistir na conversa mais um pouco. Veio-me à lembrança algo que eu havia visto que talvez pudesse caber dentro do romântico fragmentado que ela gostava.
      -Na semana passada eu fui ao cinema. Há uma cena de  Chris Hemsworth, o ator que interpreta Thor,  com  Natalie Portman que você vai gostar. Se quiser ir comigo, eu até suportaria ver o filme   de novo!
      Ela ignorou o que eu falei sobre Thor . Pegou a pequena taça, bebeu tudo o que havia dentro em apenas um gole , sentou-se novamente e disse:
      -Vai embora, cavalheiro... Ou vai pedir mais uma dose para mim?
    Um pouco sem jeito, eu respodi:
      -Se não quiser me acompanhar, eu entendo. Mas pelo menos me diga por que você não pode sair daqui!
       E ela perguntou mais uma vez:
      -Vai pagar mais uma dosinha? 
   Continua...
     

Texto: Osmar Batista Leal

   
 
   












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