“Yeah, don’t mess’ round with my mate”
(The doors)
Eu disse:
-Pago
mais uma dose, mas só se você...
-Obrigado– ouvi a moça de cabeça abaixada
dizer e continuei falando:
-Pago mais uma se, pelo menos, você me
disser por que não pode sair daqui.
Ela disse:
-Digo, se você pagar mais uma.
E assim que eu pedi à mulher do balcão que
trouxesse outra bebida, a moça sentada perto de mim, me surpreendeu:
-Veja.
A moça levantou a cabeça, mexeu no cabelo e deixou que eu vesse a horrível
marca de uma corda em seu pescoço. Pela primeira vez, desde que conversávamos, ela olhou
para mim. Além do choque que os sinais da corda apertada me causaram, eu tive medo
do seu olhar.
-Veja. Eu tentei sair daqui, mas não
consegui.
O que mais me incomodou naquele terrível
momento, não foi o corpo cadavérico tão próximo de mim, mas a lembrança de
algo que eu também havia feito há pouco
tempo. Era como se aquele corpo fosse o meu próprio corpo. Levantei-me
imediatamente, mas antes que eu me afastasse daquele horror, outra voz se aproximou:
-Parece que está querendo sair e deixar a
menina bebendo sozinha, senhor!
A mulher que viera do balcão largou o copo
de bebida em cima da mesa e continuou falando:
-Ficou com pressa de repente, senhor?
Tudo bem. Já vamos ver a sua conta.
Eu caminhei rumo ao balcão, deixando a
moça com sua dosinha na mesa, mas tive outra
surpresa. Ao levar a mão no bolso, não
encontrei a carteira.
-Fui roubado, senhora! –gritei,
desesperado.
A mulher, já de volta ao seu balcão,
disse:
-Não sairá daqui sem pagar o que deve...
Mas procure com calma...
Eu fui procurar a carteira no outro bolso,
mas percebi que não havia mais bolsos. Olhei para as minhas pernas e vi que
estava sem calça.
Assim como o meu desespero, o calor do ambiente também
aumentava. Eu pisava num chão que parecia ficar cada vez mais quente.
-Não se preocupe com sua carteira,
senhor. Há outras formas de pagar a
conta...
Eu olhei para a mulher tentando entender o
que ela quis diz dizer com aquelas palavras. Ela passou a mão sobre a própria cabeça e então
dois pequenos chifres de bode surgiram entre seus cabelos. Desviei
imediatamente o olhar e observei que, repentinamente, o local com suas paredes sombrias revelava-se uma abafada
caverna.
Mesmo não vendo nenhuma porta de saída ,
preparei-me para correr, mas senti que algo, saindo do calor infernal, tocou
minhas pernas.
Abaixei os olhos e acompanhei, levantando
diante de mim, o corpo ensangüentado de Libertina, a mulher que eu havia tirado
dali do Pálidas’ drinks um dia e levado para morar comigo.
Sem ter entrado por nenhuma porta, Libertina voltava, brotando do chão e preparava-se para me envolver com seus braços tão quentes e sedentos. Junto com seu abraço ela trazia uma faca.
E então eu lembrei de tudo; De onde eu havia deixado a faca suja de sangue e de tudo o que acontecera antes disso. E a visão que mais doeu em minha memória pesada foi do momento em que entrei em minha própria casa e encontrei Libertina deitada na nossa cama, com um outro homem.
Sem ter entrado por nenhuma porta, Libertina voltava, brotando do chão e preparava-se para me envolver com seus braços tão quentes e sedentos. Junto com seu abraço ela trazia uma faca.
E então eu lembrei de tudo; De onde eu havia deixado a faca suja de sangue e de tudo o que acontecera antes disso. E a visão que mais doeu em minha memória pesada foi do momento em que entrei em minha própria casa e encontrei Libertina deitada na nossa cama, com um outro homem.
Fim
Texto: Osmar Batista Leal
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